/ALAST CHILE 22

Simposio «Exploração e apropriação – cuidado e trabalho docente na creche, feminismos, luto é verbo!»

A atual pandemia e as crises que atravessamos tem reforçado e transformado as tendências globais neoliberais. Nos mercados de trabalho latino-americano, norte-americano e europeu são cada vez mais evidentes as marcas da precarização do trabalho, da retirada ou ausência de direitos, da informalidade, do discurso do empreendedorismo e do “salve-se quem puder”. Novas ofensivas contra os direitos de trabalhadorxs e a proteção social transformam a informalidade em regra. Neste contexto, as fronteiras entre trabalho assalariado desvalorizado e trabalho não pago realizado por mulheres na esfera “reprodutiva” tendem a apagar as diferenças entre duas lógicas – a lógica da exploração (trabalho assalariado) e de apropriação (não paga) do trabalho doméstico. Falquet propõe o conceito de vasos comunicantes para pensar a forma em que atualmente funciona a imbricação entre as relações sociais estruturais de exploração e aquelas de apropriação. Historicamente invisibilizado, o cuidado tornou-se na pandemia uma atividade fundamental para a redução da contaminação e para a sobrevivência. O contexto pandêmico, por um lado, confinou ainda mais as mulheres em casa e restringiu a possiblidade de compartilhamento das tarefas de cuidado com outras, entre as quais trabalhadoras domésticas e docentes. Por outro, sobrepôs ao peso das tarefas reprodutivas a carga de trabalho nos serviços essenciais, entre os quais os de saúde que é predominantemente realizado por mulheres. Como evidenciam algumas pesquisas, a sobrecarga de trabalho recaiu sobre as mulheres, explicitando e intensificando a divisão sexual, racial e patriarcal do trabalho. A pesquisa “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” mostra que 55% das brasileiras passaram a cuidar de alguém; 41% reportaram intensificação do trabalho e 40% afirmaram que a pandemia e o isolamento colocaram em risco o sustento da casa. A pesquisa confirma que os efeitos da pandemia sobre o trabalho doméstico não remunerado são mais sentidos pelas mulheres negras do que brancas. Outra pesquisa realizada junto a entidades sindicais de docentes da educação infantil mostra que a suspensão do atendimento em creches e pré-escolas na Educação Infantil abriu caminho para o avanço de propostas educacionais comprometidas com o mercado: educação domiciliar, ensino remoto e adoção de sistemas apostilados para creches e pré-escolas. Ademais, neste contexto foram retirados direitos e benefícios, tais como o direito ao gozo das férias, redução salarial entre outros . A presente proposta busca discutir como a atual pandemia e as múltiplas crises que atravessamos tem impactado trabalhadorxs que realizam o cuidado. Em particular, buscaremos dialogar sobre as formas como as atuais transformações da globalização neoliberal afetam o desvalorizado trabalho de mulheres em geral e, em particular, o trabalho docente em creches na educação infantil. No enfrentamento das imbricadas formas de apropriação e exploração do trabalho das mulheres no capitalismo neoliberal, a luta feminista e sindical de docentes de crianças de 0-6 anos na educação infantil constitui uma alternativa no sentido de conter ofensivas e politizar a resistência. Normalidade nunca mais!